segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Presidenta Dilma, heroína do Brasil

Eu tenho acompanhado e me solidarizado daqui de Nova Jérsei, junto com milhões brasileiros em todo o mundo, a corajosa defesa da presidenta Dilma no senado. Coragem é pouco. A presidenta Dilma está entrando para os anais da história como uma das mulheres mais aguerridas em defesa de causas sociais e democráticas ao lado de figuras, como: Rosa Parks, Annie Lumpkins e Aung San Suu Kyi. Nesse artigo, eu gostaria de refletir com vocês sobre as causas e os efeitos dessa dramática situação que envolve o impeachment e a injustiça pela qual vem sofrendo a nossa honesta presidenta.

Causa 1: A crise econômica
            Erros foram cometidos durante a gestão da presidenta dos quais ela já reconheceu. Contudo, a violenta crise econômica que se abateu sobre o mundo, bateu à porta do Brasil com virulência. Por exemplo, o preço das commodities tais como petróleo e minérios, verdadeira fonte de renda para países emergentes como o nosso, caiu, assustadoramente. No cenário interno, o desemprego e a inflação, aliados ao início das delações da “Lava Jato”, prenunciaram a tempestade que estava por vir. Faltava à cereja do bolo: Eduardo Cunha.

Causa 2: Eduardo Cunha
Cunha é um dos maiores psicopatas da atual política brasileira. O objetivo dele era megalomaníaco, ou seja, ele queria engolir o executivo e governar o país pelo legislativo suportado por dezenas de deputados, verdadeiros afiliados políticos, dispostos a tudo para ser fiel ao chefe. Com suas manobras e manipulações, ele conseguiu protelar as investigações dantescas e escandalosas que envolviam sua pessoa e aliados, e investir todas as forças na farsa do impeachment. O motivo foi simples: a presidenta Dilma não deu brecha para banditismos políticos, ou seja, ela não se submeteu aos caprichos escusos do dito Cunha. Como resultado, ele articulou o impeachment com o aval do interino e escudeiros.
Muitos deputados que votaram pelo impeachment na câmara o fizeram para serem “fiéis ao partido”. Um dos argumentos mais ridículos em todo esse processo, pois se troca de partido no Brasil, como se troca de camisa a cada fim de tarde. Merleau Ponty já dizia que na política, como nos afetos, pactos se rompem. Não são apenas alguns políticos do PT que estão envolvidos na Lava Jato, embora se tenha trabalhado ardilosamente para isso. A maior parte dos partidos está envolvida com dinheiro sujo. Logo, nesse processo, ir de encontro às orientações do partido é uma virtude política, não um vício. Toda a confabulação precisava de um emoliente, já que os protagonistas não estavam sozinhos. Eles precisavam da propaganda.

Causa 3: Os principais meios de comunicação
E ela veio avassaladora. Todo santo dia o governo Dilma era manchete de tudo o que era de ruim no cenário político, econômico e social. Seu governo foi rapidamente associado à corrupção pela Lava Jato – como se alguns políticos do PT fossem os únicos envolvidos. Desemprego, inflação, seca, crise energética, queda do PIB, tudo isso foi o tempero necessário, preparado pela mídia, para incendiar uma multidão desorientada. Os protestos pelo impeachment tomaram as ruas do Brasil. Mas, as vozes contra a manipulação midiática, também acordaram. Nesse ínterim, assistimos ainda ao início da caça ao presidente Lula. Resumindo, várias frentes foram arquitetadas para desmontar o estado de bem estar social construído pelo governo popular.

Quem é ele?
Sei muito pouco sobre o interino. Sei que ele recua a cada reação que se tem diante de suas decisões. Sei que ele é frouxo já que ele não permitiu que seu nome fosse divulgado durante a abertura das olimpíadas. Sei que ele evitou de ir ao encerramento das olimpíadas, enquanto que a presidenta Dilma esteve na abertura e no encerramento da copa de 2014 sob intensa vaia dos espectadores. Mas ela esteve lá. Heroína e corajosa, Dilma está enfrentando o senado porque não tem nada a temer. O interino não tem origem nas camadas populares, ele não sabe o que é pobreza e carência social. Ele parece estar nas mãos dos caciques dos partidos, incluindo o Cunha. Por tudo isso, o quadro que se vislumbra é bom para quem tem dinheiro e poder. O quadro só não é favorável para as camadas menos privilegiadas, porque foram elas que foram atendidas pelo governo popular.
Quando vejo um ar de normalidade em volta de Cunha e seguidores, quando vejo o doce jargão de que pobre tem que pagar plano de saúde privada e que as universidades, uma vez chegadas ao Nordeste, agora têm que ser privatizadas; em síntese, quando vejo que Paulo Freire está sendo escanteado por Alexandre Frota, algo muito nebuloso está envenenando o sangue da nossa jovem e às vezes intransitiva democracia (na linguagem de Freire). Contudo, continuo esperançoso apesar de toda essa tragédia que vem tragando a nossa sociedade brasileira. Vejo confrontos ideológicos protagonizados por verdadeiras ilhas libertárias, como os que vêm ocorrendo no cinema (Aquarius, Sônia Braga e Patricia Pillar), na música (Chico César, eternos Chico e Caetano), nas igrejas (Papa Francisco) nas escolas e universidades, sindicatos e nas ruas. Nesse cenário caótico, trago hoje um belo trecho de uma canção que sempre me acompanha em momentos de melancolia: “[...] da terra seca, flores e frutos vão brotar”. Juntos com a presidenta Dilma, pela democracia!

Prof. Otacílio Gomes da Silva Neto
New Providence, New Jersey

29/08/2016